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segunda-feira, 16 de julho de 2012

As coisas e a outra.


 Olhar desfocado, ando pela casa procurando algum apoio, algum assento, mas tudo parece desconfortável e inquieto. Ou sou eu? É a quinta vez que passo por esse corredor, passo o olho pelo armário, pelo piso, pelas lâmpadas, e nada me acolhe. No meu próprio lar e nada me acolhe. Durante esse tempo todo que passei trancado procurando conforto notei que algumas coisas me perseguem. Uma delas eu vejo pelo canto dos meus olhos toda hora, sempre que tento olhar fixamente pra ela ela foge do meu olhar, ela tem uma tonalidade luminosa, ela sorri e gira brincando, fugindo do meu olhar. Houve momentos que eu estive olhando para ela fixamente, mas eu não percebi, quando fui notar que era ela que eu estava vendo, ela fugia.    
 A outra coisa que me persegue está em todo canto que eu olho, está em todo ruído que eu ouço. Esta sim é cruel, não sei bem se usa roupas ou são pedaços de pele, mas ela tem traços sombrosos por onde anda. Parecem pedaços de tecidos que se arrastam ou flutuam no ar seguindo-a. Esta quase não anda, meio que se arrasta no chão, ás vezes dá grandes pulos, gruda no teto e desce como se fosse um catarro descendo um nariz, lenta e gradual. Esta nunca sai da minha frente, agora por exemplo quando digito estas linhas, sinto a mão dela no meu ombro, uma mão amiga, mas gélida. Ela gosta de se sentar na minha cabeça, e assim eu levo ela. Antes de eu ficar este tempo todo trancado aqui, eu passeava com ela, alguns podiam vê-la, e estes que viam também tinham uma por perto.
 Já faz um tempo que não vejo a reluzente nem pelo canto de olho, nem em lugar nenhum. Eu suspeito que a gélida comeu-a, pois a mesma está maior, e crescendo cada dia mais. E está chata também, me impedindo de fazer algumas coisas. Um dia desses tentei sair de casa e a sombrosa estava na porta, e não saiu e me impediu de sair.
 Tenho saudades da reluzente, eu gostava de ver ela nos olhos da outra. Esta outra, diferente das duas já citadas é real e física, é palpável, abraçável, beijável. Lembro-me que olhava para os olhos da outra, e lá estava a reluzente, girando em torno de si, com as mãos para cima e com um sorriso imenso na face. Nos olhos da outra, a reluzente não sentia vergonha de mim, e cantava-me músicas que nunca conseguia escutar. Ela era linda.
 Porém a outra, gostava de alimentar a minha sombrosa, eu bem me lembro que ela tinha uma também. A dela era pequena, mas ela gostava de ficar exibindo ela para mim, ela até colocava uma coleira na própria sombrosa e saía arrastando para alguns lugares. Mas o problema da outra era mesmo quando ela alimentava a minha sombrosa, atualmente minha sombrosa está grande e mais forte do que eu, assim ela me impede e eu na época da outra, previa que isso podia acontecer, por isso não gostava dela alimentando minha sombrosa. Mas ela entupia minha sombrosa de tudo, de qualquer coisa que encontrava pela frente já servia de alimento para a minha sombrosa.
 A outra tinha uma coisa legal, ela tinha uma reluzente também, e a gente ás vezes as via brincando juntas e era bom. Não posso negar que ela alimentava a reluzente também. Mas por Deus, a minha sombrosa está muito maior do que eu.
 Agora estou aqui, sentado nessa mesa, observando esta tela, e sentindo a mão da sombrosa no meu ombro. Maldita. E a sombrosa ás vezes me trás fotos, cartas e momentos da outra. Bendita.

2 comentários:

Anônimos, tenham educação.